sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Dueto da Paixão

O amor não tem limite. A paixão também não. Apaixonar-se é, de repente, ver-se em estado de graça: tudo parece sair do lugar. E o mais interessante da paixão é quando ela acontece subitamente, sem esperar. A tensão emocional é o prenúncio para perceber que estamos apaixonados, e a tendência é que essa tensão cresça cada vez mais até obtermos o objeto de desejo bem próximo a ponto de concluirmos que essa pessoa é de fato quem nos sacia.
Ver-se apaixonado é pisar em nuvens, sentir-se inebriado e achar que é a pessoa mais feliz do mundo. Essa sensação nos consome o tempo de tal maneira que a vontade é ficar inerte, só na presença de quem nos satisfaz. Todo o resto perde o sentido. Muda-se o jeito de andar, de falar, de sorrir. Passa-se por um período de êxtase em que se sai do mundo real e fica-se dependente de uma única pessoa, aquela que por hora nos parece perfeita.
É uma dependência que se instaura nos olhos, na mente, na alma, no coração; um estado pleno de euforia. É desejar envolver-se, entranhar-se, fundir-se. É um momento em que a pessoa se permite viver intensamente todas as emoções de uma só vez: com leveza, liberdade, sem amarras, sem discordâncias. Está tão prazerosa das coisas que nada a afeta. Não há cansaço nem nostalgia. E se tudo tem começo, meio e fim, a paixão é o clímax de uma história vivida a dois. Um dueto perfeito de uma canção lírica.
Um ser apaixonado veste-se de presente, sem muito pensar no que há de vir. E se assim não for, não viverá todas as delícias da paixão. Quem se remete ao futuro fazendo prognósticos, distancia-se das nuances momentâneas que esse sentimento proporciona. Essa felicidade não possui garantias e tem tempo de validade, portanto, é preciso vivê-la plenamente. Vale mais ter uma história para escrever, com toda a volúpia que ela causou, do que ser uma página em branco sobre a mesa.
Não existe maneira de se preservar para sempre uma paixão. Ainda que se deseje. É uma energia que não combina com rotina. E por ser evanescente, exige surpresa! Ela lembra sonho, perfume, desejo, tesão, coragem, avidez, pés descalços, gargalhada, prazer. É um horizonte que fica logo ali, e o caminho é imprevisível, sem limites, inexato, descontraído, sem placa de chegada nem prêmio no final. Definitivamente, estar apaixonado é subir no muro e ficar apreciando a paisagem até o anoitecer com olhos de fantasia. Portanto, não perca tempo olhando para baixo com medo de cair; você pode perder o beijo que o fará flutuar.